terça-feira, junho 07, 2011

A CAMAREIRA E DOMINIQUE






















Affonso Romano de Sant Anna






Todo o mundo está acompanhando a estória do ex-presidente do FMI Dominique Strauss-Kahn e a camareira do hotel que denunciou-o por estrupro. E isto me fez lembrar de um filme- “A camareira do Titanic”- dirigido pelo espanhol Bigas Luna.
         A semelhança começa na sonoridade do titulo: “A camareira do Titanic” e a camareira do Dominique. A semelhança continua, pois o filme é inspirado num romance francês e o Dominique do FMI além de ser francês ia ser candidato a presidente da França. Portanto, um personagem francês de alto coturno. E na França, mais que em qualquer outro país as peripécias de Dominique viraram uma espécie de folhetim. Não se fala de outra coisa, os jornais e revistas aumentaram suas tiragens, como ocorria antigamente com certos folhetins de Alexandre Dumas.
         E outra semelhança entre a camareira do Dominique a camareira do Titanic é a fantasia sexual. Fantasia e realidade. As pessoas estão discutindo se a camareira é que provocou o escândalo, pois nos Estados Unidos assédio sexual virou uma indústria que alimenta advogados e vitimas falsas e verdadeiras.
         No filme de Bigas Lunas um operário ganha o prêmio para ver a partida do navio Titanic. Mas uma mulher bate à porta do quarto do hotel onde estava hospedado se apresenta como camareira do Titanic. Bem, aí a fantasia e a realidade começam a se misturar. Da mesma maneira que não se sabe exatamente o que ocorreu entre o Dominique a camareira em Nova York, também a fantasia dispara no caso da camareira do Titanic. Amigos do operário que esteve com a camareira começam a lhe pedir que conte o que ocorreu. No princípio ele nega que tenha ocorrido qualquer coisa. Mas como as pessoas insistem e começam já a inventar, ele vai adicionando condimentos à estória.
         O fato é que a narrativa dele vai crescendo e começa a aparecer gente para ouvi-la. Inclusive a própria mulher do operário vem ouvi-lo. E aqui, de novo, as duas estórias se cruzam o filme de Bigas Luna e o que ocorreu com a realidade recente. A mulher de Dominique apareceu no meio dessa estória para ouvir e defender o marido.
         No filme, a narrativa do operário faz tanto sucesso que ele sai mundo afora com um espetáculo onde narra, cada vez mais exageradamente o que lhe aconteceu. Nessas alturas a própria mulher já faz parte de sua “ troupe”, tudo virou um negocio real e fantasioso, muito rentável.
         Mas um dia, enquanto conta sua estória num auditório ele vê assentada na primeira fila a camareira propriamente dita. E descobre que ela se salvou do naufrágio do Titanic. Só que, a rigor, era uma prostituta. E estava ali assistindo com o seu gigolô para cobrar parte da comissão que lhe era devida pelo espetáculo.
         Não quero tripudiar sobre a tragédia alheia.Mas o folhetim de Dominique continua sendo escrito. Qualquer hora vai virar filme, vai virar livro e quem sabe até musical da Broadway.
E, como já se está vendo, o dinheiro, a fantasia e a realidade já começaram a fluir juntos num oceano de lucros e incomprensões.

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