O texto é de 1910. E  atual. Claro, não é meu, apesar de eu estar quase lá; também não é de Rilke, que escreveu algo parecido em 1903, ao jovem  Frans Xaver Kappus. Refiro-me a uma carta de Herman Hesse, que sendo destinada  a um “jovem poeta”, no entanto, tem o titulo amplo: “carta a muitos destinatários”.
Agradecendo à missiva desse jovem hipotético, o autor de “O  lobo da estepe”  e premiado com  Nobel, diz: “Você me submete o que produziu até agora e roga minha opinião sobre seu talento poético. Trata-se aparentemente de uma questão simples e anódina, na medida que você não espera de minha parte nenhuma adulação, mas a estrita verdade. Eu gostaria muito de responder com clareza a uma pergunta tão clara, se isso me fosse possível. Esta "verdade" não é assim tão fácil de encontrar. É até mesmo impossível, ao meu ver, pronunciar-se sobre o talento de um debutante que a gente só conhece por meio de algumas amostras”. E mais adiante, esclarece: “ Se alguém algum dia lhe prometer a avaliação de seu talento  literário a partir de seus primeiros escritos, como o grafólogo de um jornal julga o temperamento de um assinante no correio dos leitores, trata-se de um homem superficial, ou melhor, de um impostor “.
Isto posto, ele explica que os textos jovens de Goethe e Schiller, por exemplo, tinham alguma habilidade, mas não prenunciavam os autores que seriam: “Se alguém algum dia lhe prometer a avaliação de seu talento  literário a partir de seus primeiros escritos, como o grafólogo de um jornal julga o temperamento de um assinante no correio dos leitores, trata-se de um homem superficial, ou melhor, de um impostor” .
Sendo ainda mais franco, diz: “Julgar os jovens talentos não é portanto tão simples como você imagina, e eu não estou em condições de fazê-lo . Como eu não o conheço bem, ignoro tudo acerca de seu desenvolvimento pessoal. Seus poemas podem conter ingenuidades que você terá superado definitivamente em seis meses; mas você poderá igualmente cometer os mesmos erros dentro de dez anos. Alguns poetas compõem aos vinte anos versos de uma beleza estonteante, mas não escrevem mais nada depois dos trinta; outros, ao contrário, continuam a escrever as mesmas coisas, o que é muito pior. De resto, é preciso às vezes esperar uma trintena ou uma quarentena para ver desabrochar certos dons. Numa palavra, sua questão sobre suas perspectivas de glória literária me faz pensar numa mãe preocupada em saber se seu filho de cinco anos será um dia grande e esbelto, ou se ele permanecerá pequeno por toda a vida. Seu filho pode muito bem permanecer minguado até quatorze ou quinze anos e crescer repentinamente”.
Depois faz uma pergunta perturbadora:  “É mesmo verdadeiramente necessário que você se torne um poeta? Para muitos jovens talentosos, o poeta é um ideal, no qual eles vêem um coração puro, uma alma que soube conservar sua originalidade, um ser dotado de uma sensibilidade delicada, de vida afetiva refinada. Ora, todas essas virtudes não são o apanágio dos poetas, mas são muito mais preciosas que um hipotético talento literário. Dito de outro modo, qualquer um que deseje abraçar a carreira das letras com o objetivo de conquistar a celebridade faria melhor se escolhesse a dos palcos”. 
Finalmente, faz uma advertência ousada sobre a qual escritores iniciantes e veteranos deveriam meditar calmamente: “Na medida que você tenha o sentimento de que seus ensaios lhe fazem bem, que eles o ajudam a ser mais lúcido sobre o mundo e sobre você mesmo, que eles lhe permitem aumentar seu vigor e agudizar sua consciência, persista! Poeta ou não, você se tornará um homem útil, vivo e clarividente. Se você persegue um objetivo, como eu espero que ocorra, e se encontrar um obstáculo, por mínimo que seja, na leitura ou escritura poética, se os caminhos paralelos da desonestidade ou da vaidade o tentam, mesmo que seja pouco, se você constata enfim que sua alegria de viver perdeu seu frescor, desembarace-se então de seus poemas e dos nossos!
Com todos meus votos de sucesso,
H.H. “.